“Sou
contra e estou aqui pra dizer que a família é milenar, homem, mulher e sua
prole. Tenho o direito de preservar macho e fêmea porque essa é a história da
civilização humana” (Silas Malafaias).
Silas
Malafaias novamente tentando roubar a “cena”, e propõe mais um boicote, dessa vez contra o Boticário, dentre
tantos que já promoveu contra o que ele chama de “ditadura gay”, foi contra PLC
122/06 que criminalizava a homofobia e a nomeou vulgarmente de “lei da mordaça”,
dizendo que feria o direito de expressão. Como já mencionei no post anterior,
direito esse que só os cristãos e fundamentalistas acreditam ter o direito de
exercer.
Mas,
o que de fato faz esse homem temer tanto as várias formas de amar? As novas
configurações familiares? E contradizendo sua afirmação que a família que ele
defende é “milenar”, não, não é.
Na
Bíblia livro de regra e fé que ele diz defender, porém deve pular os
ensinamentos de Cristo, principalmente o de não fazer a casa de Deus um “covil
de ladrões e comércio”, e o de “amar ao próximo como Cristo amou”, nessa mesma
Bíblia que ele vende por valores absurdos, há várias configurações de famílias.
Abraão
era casado com Sarah sua meia irmã, (gênesis 20: 12). Davi possuía várias
esposas, e assim mesmo adulterou e cometeu um assassinato, (II Samuel 11:
4-17). Salomão teve várias esposas princesas e concubinas totalizando 1000
mulheres. (I Reis 11: 3). E nos tempos
do Novo Testamento Paulo escreve a Timóteo que um homem para ser presbítero além
de outras virtudes deveria ser marido de uma só esposa, (I Timóteo 3:2), o que
se dá a entender que havia a poligamia ainda.
O
interessante é que não vimos Cristo em nenhum momento atacando homossexuais, e
sabemos que existiam e muitos em Roma, mas fariseus, hipócritas, fundamentalistas, mercenários
tipo a “lá Malafaias” Cristo atacou. (João 2:3-19).
Outra
coisa, macho e fêmea é termo para animal irracional, e de machista doente que
quer manter ainda o patriarcado, esse sim é milenar, e pernicioso. Nos moldes
do patriarcado o senhor da família tinha o poder da vida e morte sobre todos
que estavam sob seu poder.
E o termo original de família que ele tanto defende não é tão nobre assim, vem do latim "famulus", criado ou servo. Originalmente a palavra
designava a todos que viviam na mesma casa sob o domínio do senhor e só mais
tarde passou a determinar um grupo de pessoas de mesmo laço de sangue, vivendo
juntas na mesma casa e se submetiam à autoridade comum do senhor patriarca.
Osório,
explica a raiz etimológica através do viés das relações possessivas intrafamiliares
entre os povos primitivos, desta forma, a mulher, filhos, servos, empregados,
parentes eram propriedades do marido-pai-senhor, e deviam-lhe obediência, como
até as próprias vidas.
“Na
família feudal da Idade Média era a linhagem, e não o casamento, que estava no
centro da vida familiar. A mulher era considerada como pertencente à linhagem
do marido e quando este morria ela era excluída da linhagem. A família era do tipo
extenso ou abrangente, ou seja, incluía outros parentes, amigos ou vassalos. Na
família Feudal, a obediência à autoridade era altamente valorizada, sendo
permitido o uso de castigo físico para garantir a ordem e a disciplina, quer na
família, na escola ou no clero”. (NARVAZ, 2004).
Temo
que Silas Malafaias esteja querendo retomar esse modelo medieval de família que
perpetuou por anos com o patriarcado. Se ele quer e se seu grupo familiar em
pleno século XXI aceita, que sejam felizes, se conseguirem. Mas se limite ao seu
reduto familiar e não ultrapasse dele.
Agora
querer impedir avanços conquistados, impedir o reconhecimento das novas
configurações familiares, que, diga-se de passagem, não são novas, sempre
existiram, somente estão conquistando agora seu espaço que tem por DIREITO, e
que por muito tempo lhes foi negado, isso é egoísmo da parte de quem não quer
reconhecer, é ser retrogrado demais.
Engels em sua obra "A Origem da família da propriedade privada e do Estado" menciona [...] Karl Marx acrescenta: “O mesmo acontece,
em geral, com os sistemas políticos, jurídicos, religiosos e filosóficos.” Ao
passo que a família prossegue vivendo, o sistema de parentesco se fossiliza; e,
enquanto este continua de pé pela força do costume, a família ultrapassa. Contudo,
pelo sistema de parentesco que chegou historicamente até nossos dia, podemos
concluir que existiu uma forma de família a ele correspondente e hoje extinta,
e podemos tirar a essa conclusão com a mesma segurança com a que Cuvier, pelos
ossos do esqueleto de um animal achados em paris, pode concluir que pertenciam
a um marsupial e que os marsupiais, agora extintos, ali viveram antigamente.
(ENGELS, 1984).
Sendo assim, temos que admitir que o mundo vive ações que vão refletir nas outras formas de configurações de
famílias que até então estavam atrás das cortinas e agora entram em cena aos
poucos e começam a protagonizar suas próprias histórias, enfrentando os
pré-conceitos de não serem a família “tipo-ideal” protótipo de família nuclear
burguesa, padrão exigido pela sociedade.
É
chegada a hora de repensarmos nossos conceitos, o mundo que pensamos que sempre
foi e existiu desse modo, não é e não foi, ele se construiu e vai se (re) construindo, tem um contexto histórico dialético que vai se transformando de
forma subjetiva e objetiva. A
família não é algo natural e biológico, mas uma construção histórico/social que
vem se transformando. Continua em transformação apresentando novas
configurações, a família é uma célula viva da sociedade que vai se moldando de
acordo com as suas necessidades para sobreviver às exigências que lhes são
impostas.
Pensar
que é “responsável” por defender um modelo arcaico de família, que
subalternizou a mulher, escravizou etnias, proibiu a liberdade de expressar a
sexualidade que o sujeito se identifica, é presunção demais para um mundo
globalizado em pleno século XXI.
Esse
ser representa a elite patriarcal, hétero sexual, de homem branco, que defende
o sistema capitalista, sente saudades da Casa Grande, da Aristocracia, que visa
o lucro pela exploração do homem pelo homem, e os demais são restos. Tão longe
dos ensinamentos do Cristo que ele diz pregar.
Por
Lúcia Goulart