quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Vozes da Esquerda



"Nesta carta singela desejo lhe dizer que me senti ofendido e desrespeitado como cidadão com seu discurso ao justificar seu voto a favor da prisão de Delcídio do Amaral, nesta manhã. A senhora disse que antes nos fizeram acreditar que a esperança venceu o medo. É evidente que a senhora se referiu à campanha eleitoral e eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem citá-lo."





CARTA ABERTA À MINISTRA CARMEN LÚCIA, DO STF


Por Dom Orvandil Moreira Barbosa - Cartas Proféticas - 25/11/2015


Prezada Ministra Carmem Lúcia

Nosso País acordou estupefato com a prisão de um senador da República. Por outro lado, alivio-me com a prisão de um banqueiro, um dos mais ricos do Brasil.


Não guardo intimidade com o pensamento do Senador Delcídio do Amaral em virtude de suas origens políticas, ligadas à privatizações e ao nefasto neoliberalismo. Porém, sua prisão nos coloca sob espanto pelo colorido de arbitrariedade em face da imunidade parlamentar de que gozam os eleitos pelo povo para ocupar cadeira na mais alta casa legislativa.


Perdoe-me, ministra Carmem, por me dirigir a senhora sem o traquejo jurídico próprio dos advogados, já que não sou um e sem a formalidade de um tribunal, já que não pertenço a nenhum.

Aqui tenho o objetivo de questioná-la pelo que disse na 2ª turma do STF ao justificar seu voto na decisão do ministro Teori Zavascki ao ordenar a prisão do Senador Delcídio do Amaral e do Banqueiro André Esteves.


É de se esperar que os homens e as mulheres eleitos e eleitas sejam honestos, honestas, probos e probas nas suas atividades parlamentares, embora alguns afrontem e desrespeitem a sensibilidade social e a cidadania, como é o caso do Senador Ronaldo Caiado, que frequentemente usa camiseta amarela com os sinais de 9 dedos, em deboche a deficiência física do ex-presidente Luiz Inácio Luiz da Silva, sem que seja incomodado em momento algum por esse preconceito e crime.


Nesta carta singela desejo lhe dizer que me senti ofendido e desrespeitado como cidadão com seu discurso ao justificar seu voto a favor da prisão de Delcídio do Amaral, nesta manhã.


A senhora disse que antes nos fizeram acreditar que a esperança venceu o medo. É evidente que a senhora se referiu à campanha eleitoral e eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem citá-lo.


E vencemos mesmo, ministra Carmem. Milhões de brasileiros fomos ameaçados com o estouro do dólar, com a fuga dos empresários que investiriam em outros Países abandonando o Brasil ao desemprego e à pobreza. Uma atriz da TV Globo apareceu em noticiários e na propaganda eleitoral do PSDB fazendo caras teatrais de assustada e dizendo: “ai, estou com medo”. Pois vencemos essa tentativa. Os milhões de votos investidos em Lula transcenderam fronteiras partidárias para afirmar nossa esperança contra as ameaças rasteiras e desonestas. Vencemos o medo, com muita esperança. O Brasil se sentiu recompensado com essa vitória. A senhora sabe!


Como cidadão e como povo me sinto ofendido e agredido em minha esperança e em minha fé com essa sua fala, para mim irônica e sem nenhuma relação com o mensalão da mídia, com muitos casos dúbios e influenciados pela opinião publicada.


A senhora carregou sobre a ironia sem nexo ao afirmar que “agora o escárnio venceu o cinismo”.
Qual a relação do possível crime do Senador Delcídio do Amaral, nem investigado totalmente e, muito menos julgado e condenado, com a vitória da esperança em 2002?


A senhora quer nos envolver em todos os possíveis crimes de Delcídio? A senhora falou pensando em investigação e condenação do ex-presidente Lula, o candidato a respeito de quem se usou o slogan “a esperança venceu o medo”? A senhora já sabe, mesmo sem julgamento, que o Senador Delcídio do Amaral é criminoso, até mesmo antes da manifestação da casa onde ele é parlamentar?
Na fundamentação de seu voto a favor da prisão do aludido senador a senhora asseverou que “ agora o escárnio venceu o cinismo”.


Pergunto se o seu voto não se referia a um senador? Se se referia ao Senador Delcídio do Amaral qual a relação da ironia com os votos de milhões de brasileiros que tiveram esperança de mudar aquela realidade triste de desemprego, de miséria e de pobreza em 2002?


A senhora ameaçou quem ao afirmar posteriormente que “criminosos não passarão sobre a justiça”, alertando a todos do mundo da corrupção?


Perdão, ministra, mas a minha ofensa também vem do fato de a senhora misturar ironicamente fatos e valores sem nenhuma relação, sendo que a esperança realmente venceu o medo e sempre vencerá as vilanias da classe dominante, principalmente da rapinagem dos poderosos internacionais, que atuam por meio de jagunços nacionais.


Pior, a sua referência de falso senso de oportunidade choca por estabelecer nexos irreais entre um senador atual, preso acusado de atrapalhar investigações, com toda a força da esperança de um povo.
Choca mais o fato de a senhora não fazer nenhuma menção ao banqueiro André Esteves, dono do Banco BTG Pactual, também preso como suspeito de fazer uma operação polêmica na área internacional da Petrobras, ao comprar poços de petróleo na África, sendo ele um dos homens mais ricos do Brasil, um País pobre e, mesmo assim, de esperanças que vencem os medos.


A senhora não disse nada sobre André Esteves foi pelo fato de ele ser banqueiro e rico? Haveria na senhora algum senso de seletividade, como o há na mídia que reforçou com grande destaque as suas palavras?


Enfim, perdoe-me pela ousadia de exercer o direito de questionar, de me indignar contra as seletividades e contra o deboche em relação ao povo que tem esperança, apesar do medo que diuturnamente lhe impingem.


• Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
• Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário, trabalhando duro sem explorar ninguém.


Postagem original em "Vozes da Esquerda".

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Que mundo é esse?


Tenho andado com um sentimento que borbulha dentro de mim, que revolta, enoja, lamento, entristeço, me deixa impotente. Depois do caos vai me revigorando aos poucos, vou sentindo minhas forças retornando, e o terremoto de sentimentos dando lugar à razão, então começo a pensar como posso ser útil nesse mundo de tanta maldade?

Não sendo como eles? Tentando fazer que outras pessoas pensem diferente? Várias crianças mortas quando um bote vira em pleno oceano com refugiados, aquele bote que lhes trouxe a morte, antes representava a esperança de vida, um menino indígena queimado vivo por fazendeiros brigando pela posse de terras... Refugiados haitianos sendo baleados por pessoas aparentemente de classe média, diga-se pelas testemunhas que viram seu carro de luxo, baleadas por serem imigrantes.

Uma crise econômica conjuntural no mundo, e aqui no Brasil uma crise ainda pior, uma crise política, racista, homofóbica, xenofóbica, a síndrome da Casa Grande persiste em reviver seu passado escravocrata, não se deram conta que não existem mais senzalas. Não existem privilégios, o povo luta para que os Direitos a tanto negado, agora seja de igual modo a todos.

O capitalismo está em convulsão, mas não está em estado terminal, é um mal que se regenera através do sacrifício de muitos. Da imagem do menino afogado a beira da praia, do menino indígena queimado vivo, dos haitianos baleados, das guerras no oriente, dos conflitos necessários para que se continue a comercialização bélica. Dos refugiados em desespero que se sujeitam embarcar em um bote. “Ou se morre no seu país ou se não morrer no meio do oceano, quem sabe poderá viver em outro lugar?”

O socialismo é uma utopia distante e depois da queda do muro de Berlim para muitos foi enterrado de vez. Mas eu gosto de ser utópica, me faz lutar por algo melhor. Galeano disse que quando andamos dez passos para aproximarmos da utopia, ela de nós dez passos se afasta. Ela é sábia, faz isso para não deixarmos de busca-la, persegui-la. Sem essa busca como o mundo poderá ser melhor?

Estou muito triste com tantos acontecimentos nefastos, mas não posso me abalar, tenho que ser alguém, com outros "alguém" que possuem a mesma utopia e juntos lutarmos para melhorar o que pudermos melhorar.

Lúcia Goulart.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Debate Sobre o Aborto




Sou contra o aborto. Mas sou contra a criminalização do aborto também. O meu princípio moral e cristão não pode permitir que mulheres por motivos que desconhecemos e não nos cabe "julgar" outro princípio cristão, caiam nas mãos de clínicas clandestinas e morram.
                                                                                                                                                  "Sou a favor da vida" outro princípio totalmente cristão, se o aborto é inevitável legalizado ou não, ao menos sendo feito por vias legais poupará a vida da mulher e antes ela será acompanhada por uma equipe interdisciplinar de profissionais assistente social e psicólogo e outros que poderão apresentar outro caminho respeitando, contudo a sua liberdade de decisão.
                                                                                                                                        Enquanto não separarmos a moral do direito, não viveremos uma sociedade de respeito. Sabemos que em nossa sociedade uma mulher com recursos financeiros quiser fazer um aborto ela fará, irá a uma clínica com médicos conceituados, pagará pela consulta, pelo aborto, ficará de repouso na clínica e somente terá alta médica depois que estiver bem. 
                                                                                                                                     Ela não será denunciada, seu médico não será denunciado, e o procedimento feito em clínicas particulares não passará de um atendimento normal, corriqueiro. Mas e a mulher que não possui recursos? Ela irá procurar um "aborteiro" clandestino de "fundo de quintal", pagará também, mas bem menos que uma clínica particular, e somente Deus saberá se ela vai sair com vida desse lugar.  
                                                                                                                                      E se sobreviver terá complicações como muitas já tiveram, e irão parar em um hospital público, e se sobreviver será denunciada. Lembrando que essas clinicas clandestinas não respeitam o tempo em que pode-se abortar sem causar sofrimento, isso é, dentro das doze semanas de gestação que ainda não foi formado o sistema nervoso do feto.   
                                                                                                                                       Passado desse tempo o feto tem seu sistema nervoso formado e sofrerá com o procedimento. E o pior, muito dessas submetem o procedimento em mulheres que já estão até no sétimo mês de gestação. Isso não é mais aborto é infanticídio. Precisamos ter um debate sério sobre esse assunto, sem moralismo religioso.   
                                                                                                                                       Pois se os religiosos se importassem com a vida estariam preocupados com as mulheres que poderão vir a morrer enquanto o aborto é criminalizado.  Hoje o Senado Federal realizará a terceira audiência pública para discutir o assunto, o Senador Magno Malta é relator da pasta após a entrega da mesma pela Senadora Marta Suplicy. 
                                                                                                                              Instruira SUG 15 de 2014, que regula a interrupção voluntária da gravidez, dentro das doze primeiras semanas de gestação. 06/08/2015 - 09:00 - Anexo II, Ala Senador Nilo Coelho, Plenário nº 2 Que a população possa participar, discutir, debater com cidadania.                                                                                                                                                    Por Lúcia Goulart




terça-feira, 4 de agosto de 2015

O Perigo de Uma Única História




Eu sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar "o perigo de uma história única." Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com 2 anos, mas eu acho que 4 é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos.

Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos 7 anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve.Comiam maçãs. (Risos) E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido. (Risos) Agora, apesar do fato que eu morava na Nigéria. Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário.

Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tinha a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. (Risos) E por muitos anos depois, eu desejei desesperadamente experimentar cerveja de gengibre. Mas isso é uma outra história.

A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis face a uma história,principalmente quando somos crianças. Porque tudo que eu havia lido eram livros nos quais as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me de que os livros, por sua própria natureza, tinham que ter estrangeiros e tinham que ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Bem, as coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos. Não havia muitos disponíveis e eles não eram tão fáceis de encontrar quanto os livros estrangeiros,

mas devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye eu passei por uma mudança mental em minha percepção da literatura. Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia.

Bem, eu amava aqueles livros americanos e britânicos que eu lia. Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos. Mas a consequência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eupodiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são.

Eu venho de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor. Minha mãe, administradora. Então nós tínhamos, como era normal, empregada doméstica, que frequentemente vinha das aldeias rurais próximas. Então, quando eu fiz 8 anos, arranjamos um novo menino para a casa. Seu nome era Fide. A única coisa que minha mãe nos disse sobre ele foi que sua família era muito pobre.Minha mãe enviava inhames, arroz e nossas roupas usadas para sua família. E quando eu não comia tudo no jantar, minha mãe dizia: "Termine sua comida! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não tem nada?" Então eu sentia uma enorme pena da família de Fide.

Então, um sábado, nós fomos visitar a sua aldeia e sua mãe nos mostrou um cesto com um padrão lindo, feito de ráfia seca por seu irmão. Eu fiquei atônita! Nunca havia pensado que alguém em sua família pudesse realmente criar alguma coisa. Tudo que eu tinha ouvido sobre eles era como eram pobres, assim havia se tornado impossível pra mim vê-los como alguma coisa além de pobres. Sua pobreza era minha história única sobre eles.

Anos mais tarde, pensei nisso quando deixei a Nigéria para cursar universidade nos Estados Unidos. I tinha 19 anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, por acaso, a Nigéria tinha o inglês como sua língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir o que ela chamou de minha "música tribal" e, consequentemente, ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita da Mariah Carey. (Risos) Ela presumiu que eu não sabia como usar um fogão.

O que me impressionou foi que: ela sentiu pena de mim antes mesmo de ter me visto. Sua posição padrão para comigo, como uma africana, era um tipo de arrogância bem intencionada, piedade. Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais.

Eu devo dizer que antes de ir para os Estados Unidos, eu não me identificava, conscientemente, como uma africana. Mas nos EUA, sempre que o tema África surgia, as pessoas recorriam a mim. Não importava que eu não sabia nada sobre lugares como a Namíbia. Mas eu acabei por abraçar essa nova identidade. E, de muitas maneiras, agora eu penso em mim mesma como uma africana. Entretanto, ainda fico um pouco irritada quando referem-se à África como um país. O exemplo mais recente foi meu maravilhoso voo dos Lagos 2 dias atrás, não fosse um anúncio de um voo da Virgin sobre o trabalho de caridade na "Índia, África e outros países." (Risos)

5:55Então, após ter passado vários anos nos EUA como uma africana, eu comecei a entender a reação de minha colega para comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria e se tudo que eu conhecesse sobre a África viesse das imagens populares, eu também pensaria que a África era um lugar de lindas paisagens, lindos animais e pessoas incompreensíveis, lutando guerras sem sentido, morrendo de pobreza e AIDS,incapazes de falar por eles mesmos, e esperando serem salvos por um estrangeiro branco e gentil. Eu veria os africanos do mesmo jeito que eu, quando criança, havia visto a família de Fide.

Eu acho que essa única história da África vem da literatura ocidental. Então, aqui temos uma citação deum mercador londrino chamado John Locke, que navegou até o oeste da África em 1561 e manteve um fascinante relato de sua viagem. Após referir-se aos negros africanos como "bestas que não tem casas",ele escreve: "Eles também são pessoas sem cabeças, que têm sua boca e olhos em seus seios."

Eu rio toda vez que leio isso, e alguém deve admirar a imaginação de John Locke. Mas o que é importante sobre sua escrita é que ela representa o início de uma tradição de contar histórias africanas no Ocidente. Uma tradição da África subsaariana como um lugar negativo, de diferenças, de escuridão,de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta, Rudyard Kipling, são "metade demônio, metade criança".

E então eu comecei a perceber que minha colega de quarto americana deve ter, por toda sua vida, visto e ouvido diferentes versões de uma única história. Como um professor, que uma vez me disse que meu romance não era "autenticamente africano". Bem, eu estava completamente disposta a afirmar que havia uma série de coisas erradas com o romance, que ele havia falhado em vários lugares. Mas eu nunca teria imaginado que ele havia falhado em alcançar alguma coisa chamada autenticidade africana. Na verdade, eu não sabia o que era "autenticidade africana". O professor me disse que minhas personagens pareciam-se muito com ele, um homem educado de classe média. Minhas personagens dirigiam carros,elas não estavam famintas. Por isso elas não eram autenticamente africanos.

Mas eu devo rapidamente acrescentar que eu também sou culpada na questão da única história. Alguns anos atrás, eu visitei o México saindo dos EUA. O clima político nos EUA àquela época era tenso. E havia debates sobre imigração. E, como frequentemente acontece na América, imigração tornou-se sinônimo de mexicanos. Havia histórias infindáveis de mexicanos como pessoas que estavamespoliando o sistema de saúde, passando às escondidas pela fronteira, sendo presos na fronteira, esse tipo de coisa.

Eu me lembro de andar no meu primeiro dia por Guadalajara, vendo as pessoas indo trabalhar,enrolando tortilhas no supermercado, fumando, rindo. Eu me lembro que meu primeiro sentimento foi surpesa. E então eu fiquei oprimida pela vergonha. Eu percebi que eu havia estado tão imersa na cobertura da mída sobre os mexicanos que eles haviam se tornado uma coisa em minha mente: o imigrante abjeto. Eu tinha assimilado a única história sobre os mexicanos e eu não podia estar mais envergonhada de mim mesma. Então, é assim que se cria umaúnica história: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão.

É impossível falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo,que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é "nkali". É um substantivo que livremente se traduz: "ser maior do que o outro." Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do "nkali". Como são contadas, quem as conta,quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder.

Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve que se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história, e começar com "em segundo lugar". Comece uma história com as flechas dos nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso do estado africano e não com a criação colonial do estado africano e você tem uma história totalmente diferente.

Recentemente, eu palestrei numa universidade onde um estudante disse-me que era uma vergonha que homens nigerianos fossem agressores físicos como a personagem do pai no meu romance. Eu disse a ele que eu havia terminado de ler um romance chamado "Psicopata Americano" - (Risos) - e que era uma grande pena que jovens americanos fossem assassinos em série. (Risos) (Aplausos) É óbvio que eu disse isso num leve ataque de irritação. (Risos)

Nunca havia me ocorrido pensar que só porque eu havia lido um romance no qual uma personagem era um assassino em série, que isso era, de alguma forma, representativo de todos os americanos. E agora, isso não é porque eu sou uma pessoa melhor do que aquele estudante, mas, devido ao poder cultural e econômico da América, eu tinha muitas histórias sobre a América. Eu havia lido Tyler, Updike, Steinbeck e Gaitskill. Eu não tinha uma única história sobre a América.

Quando eu soube, alguns anos atrás, que escritores deveriam ter tido infâncias realmente infelizes para ter sucesso, eu comecei a pensar sobre como eu poderia inventar coisas horríveis que meus pais teriam feito comigo. (Risos) Mas a verdade é que eu tive uma infância muito feliz, cheia de risos e amor, em uma família muito unida.

Mas também tive avós que morreram em campos de refugiados. Meu primo Polle morreu porque não teve assistência médica adequada. Um dos meus amigos mais próximos, Okoloma, morreu num acidente aéreo porque nossos caminhões de bombeiros não tinham água. Eu cresci sob governos militares repressivos que desvalorizavam a educação, então, por vezes, meus pais não recebiam seus salários. E então, ainda criança, eu vi a geleia desaparecer do café-da-manhã, depois a margarina desapareceu, depois o pão tornou-se muito caro, depois o leite ficou racionado. E acima de tudo, um tipo de medo político normalizado invadiu nossas vidas.

Todas essas histórias fazem-me quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias que formaram-me. A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história.

Claro, África é um continente repleto de catástrofes. Há as enormes, como as terríveis violações no Congo. E há as depressivas, como o fato de 5.000 pessoas candidatarem-se a uma vaga de emprego na Nigéria. Mas há outras histórias que não são sobre catástrofes. E é muito importante, é igualmente importante, falar sobre elas.

Eu sempre achei que era impossível relacionar-me adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem relacionar-me com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A consequência de uma única história é essa: ela rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes.

E se antes de minha viagem ao México eu tivesse acompanhado os debates sobre imigração de ambos os lados, dos Estados Unidos e do México? E se minha mãe nos tivesse contado que a família de Fide era pobre E trabalhadora? E se nós tivéssemos uma rede televisiva africana que transmitisse diversas histórias africanas para todo o mundo? O que o escritor nigeriano Chinua Achebe chama "um equilíbrio de histórias."

E se minha colega de quarto soubesse do meu editor nigeriano, Mukta Bakaray, um homem notável que deixou seu trabalho em um banco para seguir seu sonho e começar uma editora? Bem, a sabedoria popular era que nigerianos não gostam de literatura. Ele discordava. Ele sentiu que pessoas que podiam ler, leriam se a literatura se tornasse acessível e disponível para eles.

Logo após ele publicar meu primeiro romance, eu fui a uma estação de TV em Lagos para uma entrevista. E uma mulher que trabalhava lá como mensageira veio a mim e disse: "Eu realmente gostei do seu romance, mas não gostei do final. Agora você tem que escrever uma sequência, e isso é o que vai acontecer..." (Risos) E continuou a me dizer o que escrever na sequência. Agora eu não estava apenas encantada, eu estava comovida. Ali estava uma mulher, parte das massas comuns de nigerianos,que não se supunham ser leitores. Ela não tinha só lido o livro, mas ela havia se apossado dele e sentia-se no direito de me dizer o que escrever na sequência.

Agora, e se minha colega de quarto soubesse de minha amiga Fumi Onda, uma mulher destemida que apresenta um show de TV em Lagos, e que está determinada a contar as histórias que nós preferimos esquecer? E se minha colega de quarto soubesse sobre a cirurgia cardíaca que foi realizada no hospital de Lagos na semana passada? E se minha colega de quarto soubesse sobre a música nigeriana contemporânea? Pessoas talentosas cantando em inglês e Pidgin, e Igbo e Yoruba e Ijo, misturando influências de Jay-Z a Fela, de Bob Marley a seus avós. E se minha colega de quarto soubesse sobre a advogada que recentemente foi ao tribunal na Nigéria para desafiar uma lei ridícula que exigia que as mulheres tivessem o consentimento de seus maridos antes de renovarem seus passaportes? E se minha colega de quarto soubesse sobre Nollywood, cheia de pessoas inovadoras fazendo filmes apesar de grandes questões técnicas? Filmes tão populares que são realmente os melhores exemplos de que nigerianos consomem o que produzem. E se minha colega de quarto soubesse da minha maravilhosamente ambiciosa trançadora de cabelos, que acabou de começar seu próprio negócio de vendas de extensões de cabelos? Ou sobre os milhões de outros nigerianos que começam negócios e às vezes fracassam, mas continuam a fomentar ambição?

Toda vez que estou em casa, sou confrontada com as fontes comuns de irritação da maioria dos nigerianos: nossa infraestrutura fracassada, nosso governo falho. Mas também pela incrível resistência do povo que prospera apesar do governo, ao invés de devido a ele. Eu ensino em workshops de escrita em Lagos todo verão. E é extraordinário pra mim ver quantas pessoas se inscrevem, quantas pessoas estão ansiosas por escrever, por contar histórias.

Meu editor nigeriano e eu começamos uma ONG chamada Farafina Trust. E nós temos grandes sonhos de construir bibliotecas e recuperar bibliotecas que já existem e fornecer livros para escolas estaduaisque não tem nada em suas bibliotecas, e também organizar muitos e muitos workshops, de leitura e escrita para todas as pessoas que estão ansiosas para contar nossas muitas histórias. Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias tem sido usadas para expropriar e tornar malígno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida.

 A escritora americana Alice Walker escreveu isso sobre seus parentes do sul que haviam se mudado para o norte. Ela os apresentou a um livro sobre a vida sulista que eles tinham deixado para trás. "Eles sentaram-se em volta, lendo o livro por si próprios, ouvindo-me ler o livro e um tipo de paraíso foi reconquistado." Eu gostaria de finalizar com esse pensamento: Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso. 

Obrigada.

domingo, 19 de julho de 2015

O mundo precisa melhorar







 Sou politizada. E isso não muda a minha fé, meu senso crítico, afinado por sinal. Tenho uma postura coerente com o que faço e digo.
O que adianta pastores procurarem "entender" o "Espiritual", se não compreendem o que está a sua volta? Não faço demagogia, desejo, almejo e busco um mundo melhor para viver, com todos, principalmente com aqueles que o Senhor nos norteou a cuidar.
Muitos atacam a política de Esquerda sem saber o que estão atacando. Enquanto a Direita é opressora, contra os avanços trabalhistas, tem seus representante "cristãos" para ludibriar seus fiéis aprovando leis idiotas, fundamentalistas de cunho moralista, e para isso, enquanto o povo está sendo ludibriado, esses candidatos, supostos cristãos, os apunhalam pelas costas.
Se vocês pastores querem realmente estar ao lado do povo, do excluído, do humilhado, reveja seu posicionamento político também. Ficar atrás de um púlpito e não se posicionar é servir a Deus em vão.
O Estado serve como gabinete de comitê da burguesia, já dizia Marx. E calma, Marx não é nenhum demônio como querem que vocês pensem. Ele, seus estudos são muito usados por aqueles que criticam suas ideias. Assustado? Pois é, faça o mesmo, estude, nem que for para "desmascarar Marx e Engels, e todos os marxistas.
É interessante confundirem palavras de Jesus como se fora dito por Marx, kkk, engraçado, não sei, trágico talvez. Atacam o que Cristo ensinou dizendo que foi Marx. Não se espante, levei um tempo precioso da minha vida nesse mesmo engano.
Então deixo o meu conselho, também se fosse bom como dizem por aí, não sairíamos aconselhando. Mas uma dica preciosa, "ESTUDE", "LEIA", se inteire dos acontecimentos políticos no Brasil e no Mundo. Tenha opinião própria. Seja você, mesmo sendo "religioso", embora não goste dessa palavra. Seja fiel a Deus e principalmente sábio. 

Por Lúcia Goulart




quinta-feira, 2 de julho de 2015

Não a Redução da Maioridade Penal

A população que apoia a diminuição da maioridade penal não tem noção do que está fazendo.
Em pouco tempo os crimes triplicarão.
Existem interesses escusos nessa medida, tem dinheiro envolvido, tem interesses de privatizar o sistema penitenciário.
As maiores vítimas serão negros, pobres e excluídos pelo próprio Estado, pelo sistema corrupto que alicia crianças, e por trás estão esses mesmos políticos, juízes, a própria policia.
Sem contar o golpe ditatorial do presidente da Casa, o Cunha pensa que é intocável, que por ser presidente da Casa ele é um semi-deus, não, ele não é.
Nós como cidadãos e cidadãs não podemos aceitar isso.
Independente da posição ideológica e partidária, o que está acontecendo é gravíssimo.
Vamos refletir, em nome do futuro de nossa nação, pelo nossos filhos, netos, sobrinhos, pela nossa juventude.
Não podemos aceitar o justiçamento, nem a vingança.
Existem pesquisas que comprovam que os números de adolescentes que cometem crimes é bem inferior aos jovens que são vítimas reais.
Estamos vivendo o retrocesso jamais imaginável, a Câmara está fazendo história.... Sim, da bancarrota que estão colocando a democracia, do golpe descarado que estão dando, e o pior, certos de que não vai acontecer nada.
Estão violentando a Constituição federal de 1988, a Constituição Cidadã. Estão assassinando o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Essa lei é para fazer uma higienização social, é contra o negro, o pobre, o despossuído.
Fiquem atentos, povo trabalhador, nós seremos as maiores vítimas.
Os políticos estão assumindo suas incompetências na esfera administrativa, legislativa, com essa decisão.
Diga não, ainda podemos reverter essa votação com a mobilização da sociedade civil.

Por Lúcia Goulart

#NãoaMaioridadePenal

terça-feira, 23 de junho de 2015

Querido pastor, sermão de Jesus a Malafaia, via Gregorio Duvivier.

Querido pastor


Aqui quem fala é Jesus. Não costumo falar assim, diretamente -mas é que você não tem entendido minhas indiretas. Imagino que já tenha ouvido falar em mim -já que se intitula cristão.

Durante um tempo achei que falasse de outro Jesus -talvez do DJ que namorava a Madonna- ou de outro Cristo -aquele que embrulha prédios pra presente- já que nunca recebi um centavo do dinheiro que você coleta em meu nome (nem quero receber, muito obrigado). Às vezes parece que você não me conhece.

Caso queira me conhecer mais, saiu uma biografia bem bacana a meu respeito. Chama-se Bíblia. Já está à venda nas melhores casas do ramo. Sei que você não gosta muito de ler, então pode pular todo o Velho Testamento. Só apareço na segunda temporada.

Se você ler direitinho vai perceber, pastor-deputado, que eu sou de esquerda. Tem uma hora do livro em que isso fica bastante claro (atenção: SPOILER), quando um jovem rico quer ser meu amigo. Digo que, para se juntar a mim, ele tem que doar tudo para os pobres. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Analisando a sua conta bancária, percebo que o senhor talvez não esteja familiarizado com um camelo ou com o buraco de uma agulha. Vou esclarecer a metáfora. Um camelo é 3.000 vezes maior do que o buraco de uma agulha. Sou mais socialista que Marx, Engels e Bakunin -esse bando de esquerda-caviar. Sou da esquerda-roots, esquerda-pé-no-chão, esquerda-mujica.

Distribuo pão e multiplico peixe -só depois é que ensino a pescar.
Se não quiser ler o livro, não tem problema. Basta olhar as imagens. Passei a vida descalço, pastor. Nunca fiz a barba. Eu abraçava leproso. E na época não existia álcool gel.

Fui crucificado com ladrões e disse, com todas as letras (Mateus, Lucas, todos estão de prova), que eles também iriam para o paraíso. Você acha mesmo que eu seria a favor da redução da maioridade penal?

Soube que vocês estão me esperando voltar à terra. Más notícias, pastor. Já voltei algumas vezes. Vocês é que não perceberam. Na Idade Média, voltei prostituta e cristãos me queimaram. Depois voltei negro e fui escravizado -os mesmos cristãos afirmavam que eu não tinha alma.
Recentemente voltei transexual e morri espancado.

Peço, por favor, que preste mais atenção à sua volta. Uma dica: olha para baixo. Agora mesmo, devo estar apanhando- de gente que segue o Sr.

Texto publicado na Folha

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Cristofobia será crime hediondo ???


E Cristo dizendo, pai eles não entenderam nada!



Eu não quero entrar em certos assuntos, mas acreditem, não dá para se eximir, ficar calada, fingir que não é verdade. Não, não dá. Enquanto enterraram o PLC 122/06 que criminalizava a homofobia, e depois alterado pelo Senador Paim.

“Esse é o texto apresentado no relatório do Senador Paulo Paim notem que o PLC 122 em conjunto com a Lei nº 7.716 tornará crime qualquer discriminação contra negros, idosos, pessoas com deficiência, grupos religiosos além de punir a discriminação por gênero, identidade de gênero e por orientação sexual, não beneficiando somente um grupo, mas a todos”.

Agora, com tantos assuntos importantes a serem discutidos eles querem transformar em crime hediondo a Cristofobia. Mas oque é “crime hediondo”, vejamos:
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
II – latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2º e 3º); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
VII-B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 1994).

De acordo com a Lei crime hediondo vai de homicídio tipificado como “extermínio”, estupro, incluindo o de vulneráveis, genocídio, entre outros. Separei esses, pois tem tudo relacionado com os debates sociais que estão acontecendo, estão incluídos no PLC 122/06 que foi REJEITADA.

A homofobia é um crime de ódio praticado geralmente por grupos que se subentendem querer exterminar quem é diferente.

O estupro está incluído, e que infelizmente vivemos em nossa sociedade a maldita cultura do estupro onde se culpabiliza a vítima, aprovaram o PL 478/07 O Estatuto do nascituro, mais uma manobra para tirar os direitos das vítimas.

O genocídio, gritante e que os “nobres” deputados e senadores não enxergam. Estima-se que jovens negros entre 16 a 29 anos são mortos diariamente em todo território nacional, 82 jovens a cada 24 horas são assassinados. Entre eles, 93% são do sexo masculino e 77% são negros. 

Mas, eles estão preocupados em aprovar uma lei ridícula, pois se acharam insultados com a 19ª edição da Parada do orgulho Gay, por uma mulher ter encenado uma crucificação lembrando as mortes dos LGBTs que acontecem a cada 27 horas, matéria do post anterior.

Porém o feitiço cairá contra o feiticeiro, ops. Cristão não pratica feitiçaria. Estarão dando tiro no pé, o que tem de evangélico invadindo igrejas católicas e quebrando imagens sacras, acredito que esse crime inclua essas atitudes também.

E quanto à invasão aos terreiros de religiões de matrizes africanas que introduziram santos católicos em seus cultos, haverá a mesma punição. E como todos são iguais perante a Lei, e todos tem direito de culto ela deverá valer para todas, não sou da área do Direito, mas sei que deixarão brechas.

A questão é, enquanto eles brincam de governar, e legislam para quem bem entendem, a realidade social está gritando, estamos à mercê de fundamentalistas, hipócritas, mercenários, narcisistas, que tem o interesse voltado para seus assuntos particulares, pessoais, as mortes de LGBTs, de jovens negros, mulheres vitimizadas por estupros entre outros, parece não lhes dizer respeito.

Querem aprovar a maioridade penal, para provar que podem, a cristofobia, constitucionalizar as doações empresariais. Fica uma pergunta onde "O Orgulho Fundamentalista Religioso" vai nos levar?

Por Lúcia Goulart

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O que a crucificação representa?


























Se eu não viver para lutar pelos Direitos de igualdade, justiça, por uma nova ordem societária digna e justa. Se eu não puder deixar viva dentro de mim essa utopia de que esse mundo justo vai existir, não sirvo para servir, não sirvo para ser cristã, e não sirvo para ser de esquerda, não sirvo para ser Assistente Social.



Quero deixar bem claro a todos  sou cristã/protestante, mas não detenho o monopólio da religião. Sou contra o Silas Malafaia, Cunha, Feliciano e Magno Malta que usam a fé alheia para manipular a massa.

Sou a favor de uma teologia inclusiva e apoiei os cristãos/protestantes e católicos que estiveram presente na parada LGBTI,  intitulada "Jesus Cura a Homofobia", eu iria estar presente em apoio, mas por motivos pessoais na última hora não foi possível.

Quero esclarecer, sou casada, tenho um esposo maravilhoso, sou mãe de três filhos, dois homens e uma mulher, já sou avó, e não milito em causa própria.

Milito pelo direito e reconheço que o meu próximo tem como eu sendo hétero tenho, pois se ele tem deveres, não é justo que os direitos lhes sejam negados.

Outro ponto, é sobre a imagem da jovem simbolizando uma crucificação, desculpe-me. Mas quem ficou ofendido com essa interpretação, deixe de ser hipócrita e não vá mais peças apresentadas na páscoa em suas igrejas, pois não passam de demagogia.

Aquele simbolismo foi profundo, estava ali representado as mortes de homossexuais, trans, lésbicas, que acontecem a cada 27 horas, e o crime contra a homofobia não foi reconhecido por causa da bancada religiosa e fundamentalista que temos elegido e não aprovou o PLC 122/06.

Respeito a fé e o direito de culto de todos, como quero que respeitem o meu, mas tenho que admitir que se houve excessos nas paradas da comunidade LGBTI, a culpa é minha e de todos que representam uma igreja cristã/protestante que prega o ódio as diversidades, que não aceitam as novas configurações de famílias.

 Então se queremos respeito, que sejamos os primeiros a dar. Vi nesse evento Jesus Cura a Homofobia​ a oportunidade de nos redimirmos dos falsos profetas que usam parte da Bíblia que lhes interessam, e rasgam a outra parte que lhes condenam.

Temos que entender que existem outras configurações de famílias diferentes da que a mídia burguesa prega. E devemos respeitar. Sou cristã/protestante, mas sou de esquerda, sou progressista, e o mundo não gira em torno do meu umbigo.

Existem transformações societárias que precisam urgentemente serem feitas, no âmbito das mais expressivas vulnerabilidades. E questão de gênero é uma causa vulnerável que demanda atenção, a união de todos que defendem os Direitos Humanos lutando juntos pela causa. Sei que existem outras tão necessárias quanto, ou até mais.

Mas, nesse momento, essa veio expor uma ferida que sangra, quando homossexuais, lésbicas, trans, são brutalmente assassinados e vemos seus Boletins de Ocorrência terminar em mero suicídio.

Ainda que haja membros da comunidade LGBTI cometendo o suicídio, temos que dar a mais relevante importância, pois estão dando respostas aos sofrimentos impostos por uma sociedade, patriarcal,  majoritariamente de homens brancos, e héteros.

Se temos que nos sentir ofendidos e boicotar alguma empresa, que sejam as de cerveja, que exploram o corpo das mulheres, são sexistas, mal expõem o produto, mas expõem a mulher como objeto de desejo associando com a marca, quanto a isso não vemos nenhum religioso fundamentalista boicotar.

Pois lanço aqui um desafio, que algum parlamentar lance um projeto de Lei que proíba o uso da imagem da mulher a produtos de bebidas alcoólicas e  de automóveis.

Quero ver qual o homem que vai ter peito pra isso, e qual o religioso que vai passar por cima de seus interesses hipócritas e fazer valer uma causa pela qual se deve lutar.

O padre Júlio Lancelotti ele compreende as dores da diversidade e escreveu em sua conta no twitter: "Na missão pastoral tenho conversado com vários LGBTs, que estão pelas ruas da cidades, alguns doentes, feridos, abandonados. Muitos relatam histórias de violência, abuso, assédio, torturas e crueldade. Alguns contam como foram expulsos de igrejas e comunidades cristã, rejeitados pela família em nome da moral. Testemunhei, lágrimas, feridas, sangue e fome. Impossível não reconhecer neles a presença do Senhor Crucificado!


Por Lúcia Lucia Goulart​