quinta-feira, 4 de junho de 2015

Novas configurações familiares. Por quê ser contra?


“Sou contra e estou aqui pra dizer que a família é milenar, homem, mulher e sua prole. Tenho o direito de preservar macho e fêmea porque essa é a história da civilização humana” (Silas Malafaias).

Silas Malafaias novamente tentando roubar a “cena”, e propõe mais um boicote, dessa vez contra o Boticário, dentre tantos que já promoveu contra o que ele chama de “ditadura gay”, foi contra PLC 122/06 que criminalizava a homofobia e a nomeou vulgarmente de “lei da mordaça”, dizendo que feria o direito de expressão. Como já mencionei no post anterior, direito esse que só os cristãos e fundamentalistas acreditam ter o direito de exercer.

Mas, o que de fato faz esse homem temer tanto as várias formas de amar? As novas configurações familiares? E contradizendo sua afirmação que a família que ele defende é “milenar”, não, não é.

Na Bíblia livro de regra e fé que ele diz defender, porém deve pular os ensinamentos de Cristo, principalmente o de não fazer a casa de Deus um “covil de ladrões e comércio”, e o de “amar ao próximo como Cristo amou”, nessa mesma Bíblia que ele vende por valores absurdos, há várias configurações de famílias.

Abraão era casado com Sarah sua meia irmã, (gênesis 20: 12). Davi possuía várias esposas, e assim mesmo adulterou e cometeu um assassinato, (II Samuel 11: 4-17). Salomão teve várias esposas princesas e concubinas totalizando 1000 mulheres. (I Reis 11: 3).  E nos tempos do Novo Testamento Paulo escreve a Timóteo que um homem para ser presbítero além de outras virtudes deveria ser marido de uma só esposa, (I Timóteo 3:2), o que se dá a entender que havia a poligamia ainda.

O interessante é que não vimos Cristo em nenhum momento atacando homossexuais, e sabemos que existiam e muitos em Roma, mas fariseus, hipócritas, fundamentalistas, mercenários tipo a “lá Malafaias” Cristo atacou. (João 2:3-19).

Outra coisa, macho e fêmea é termo para animal irracional, e de machista doente que quer manter ainda o patriarcado, esse sim é milenar, e pernicioso. Nos moldes do patriarcado o senhor da família tinha o poder da vida e morte sobre todos que estavam sob seu poder.

E o termo original de família que ele tanto defende não é tão nobre assim, vem do latim "famulus", criado ou servo. Originalmente a palavra designava a todos que viviam na mesma casa sob o domínio do senhor e só mais tarde passou a determinar um grupo de pessoas de mesmo laço de sangue, vivendo juntas na mesma casa e se submetiam à autoridade comum do senhor patriarca.

Osório, explica a raiz etimológica através do viés das relações possessivas intrafamiliares entre os povos primitivos, desta forma, a mulher, filhos, servos, empregados, parentes eram propriedades do marido-pai-senhor, e deviam-lhe obediência, como até as próprias vidas.

“Na família feudal da Idade Média era a linhagem, e não o casamento, que estava no centro da vida familiar. A mulher era considerada como pertencente à linhagem do marido e quando este morria ela era excluída da linhagem. A família era do tipo extenso ou abrangente, ou seja, incluía outros parentes, amigos ou vassalos. Na família Feudal, a obediência à autoridade era altamente valorizada, sendo permitido o uso de castigo físico para garantir a ordem e a disciplina, quer na família, na escola ou no clero”. (NARVAZ, 2004).

Temo que Silas Malafaias esteja querendo retomar esse modelo medieval de família que perpetuou por anos com o patriarcado. Se ele quer e se seu grupo familiar em pleno século XXI aceita, que sejam felizes, se conseguirem. Mas se limite ao seu reduto familiar e não ultrapasse dele.

Agora querer impedir avanços conquistados, impedir o reconhecimento das novas configurações familiares, que, diga-se de passagem, não são novas, sempre existiram, somente estão conquistando agora seu espaço que tem por DIREITO, e que por muito tempo lhes foi negado, isso é egoísmo da parte de quem não quer reconhecer, é ser retrogrado demais.

Engels em sua obra "A Origem da família da propriedade privada e do Estado" menciona [...] Karl Marx acrescenta: “O mesmo acontece, em geral, com os sistemas políticos, jurídicos, religiosos e filosóficos.” Ao passo que a família prossegue vivendo, o sistema de parentesco se fossiliza; e, enquanto este continua de pé pela força do costume, a família ultrapassa. Contudo, pelo sistema de parentesco que chegou historicamente até nossos dia, podemos concluir que existiu uma forma de família a ele correspondente e hoje extinta, e podemos tirar a essa conclusão com a mesma segurança com a que Cuvier, pelos ossos do esqueleto de um animal achados em paris, pode concluir que pertenciam a um marsupial e que os marsupiais, agora extintos, ali viveram antigamente. (ENGELS, 1984).

Sendo assim, temos que admitir que o mundo vive ações que vão refletir nas outras formas de configurações de famílias que até então estavam atrás das cortinas e agora entram em cena aos poucos e começam a protagonizar suas próprias histórias, enfrentando os pré-conceitos de não serem a família “tipo-ideal” protótipo de família nuclear burguesa, padrão exigido pela sociedade.

É chegada a hora de repensarmos nossos conceitos, o mundo que pensamos que sempre foi e existiu desse modo, não é e não foi, ele se construiu e vai se (re) construindo, tem um contexto histórico dialético que vai se transformando de forma subjetiva e objetiva. A família não é algo natural e biológico, mas uma construção histórico/social que vem se transformando. Continua em transformação apresentando novas configurações, a família é uma célula viva da sociedade que vai se moldando de acordo com as suas necessidades para sobreviver às exigências que lhes são impostas.

Pensar que é “responsável” por defender um modelo arcaico de família, que subalternizou a mulher, escravizou etnias, proibiu a liberdade de expressar a sexualidade que o sujeito se identifica, é presunção demais para um mundo globalizado em pleno século XXI.

Esse ser representa a elite patriarcal, hétero sexual, de homem branco, que defende o sistema capitalista, sente saudades da Casa Grande, da Aristocracia, que visa o lucro pela exploração do homem pelo homem, e os demais são restos. Tão longe dos ensinamentos do Cristo que ele diz pregar.

Por Lúcia Goulart


Nenhum comentário:

Postar um comentário